Documento/Processo, 1853/11/15 – 1853/11/15
Documento/Processo, 1853/11/19 – 1853/11/19
Documento/Processo, 1853/11/20 – 1853/11/20
Documento/Processo, 1832/07/11 – 1832/07/11
Transcrição livre: "Porto 11 de julho de 1832 Minha querida filha. No dia 8 do corrente pelas 8 horas da tarde pus os pés e o Exército Libertador naquele país que me viu nascer e no qual já tu começas a imperar bem como a Carta Constitucional uma parte do malfadado Portugal está livre da Usurpação e em breve (espero) todo reconhecerá a sua legítima Rainha do mesmo modo e tão espontaneamente como o fez esta heroica cidade do Porto, em todos os tempos célebre pelo seu amor decidido à causa da Liberdade garante da estabilidade dos tronos e da felicidade dos povos. Deus permita que tu gozes perfeita saúde, e que eu tenha o gosto de brevemente te abraçar o que farei com tanto maior prazer quanto minha glória se achará no seu apogeu. Aceita minha adorada filha, a bênção que te deita Teu saudoso pai, que por ti e pela Liberdade já começou a expor o seu peito às balas. D. Pedro"
Documento/Processo, 1832/07/18 – 1832/07/18
Transcrição livre: "Porto 18 de julho de 1832 Minha querida Maria. Grande prazer me causaram as tuas duas cartas de 8 e 16 de junho e mui principalmente a resolução do Problema 21 que eu acho mui bem feito e todos aqueles a quem tenho mostrado para que conheçam que a Sua Rainha trata de se instruir e promete vir a ser digna de ocupar o Trono que de direito lhe pertence bem como de fazer a felicidade da Nação Portuguesa merecedora de melhor sorte. Eu estou contentíssimo contigo, agora, por ver e saber, que tu sentiste que eu estivesse desgostoso em consequência de te mostrares um pouco preguiçosa: agora porém que tu segundo me dizes (e eu creio) tratas de estudar como convém, e me dás provas disto eu me glorio de ter uma filha, tão obediente e tão minha amiga como tu és. Espero que tu continuarás a bem aproveitar o tempo, e que nunca mais eu tenha de te recomendar que estudes: tu conheces perfeitamente que é indispensável aos Monarcas terem de saber; e que no século em que vivemos, e em que os Povos estão mais esclarecidos, e já não engolem patranhas, é mister que seus Reis mereçam pelas suas boas qualidades, virtudes, e saber o respeito de seus súbditos, e não pelo nascimento que de nada vale perante o Mundo livre. O merecimento e as virtudes é que chamam no século presente, os homens aos empregos; ora se o Governo busca o merecimento, e as virtudes naqueles que tem a empregar, não deverá aquele, ou aquela, que deve julgar deste merecimento e destas virtudes ser quando não mais, ou menos tão capaz como os que devem ser empregados. Eu estou certo que tu estás convencida destas indispensáveis verdades, e que firme nos verdadeiros princípios da Moral e da Honra jamais te afastarás da vereda constitucional, que, com tanto aproveitamento começas a trilhar. Recebe minha amada filha, a bênção que te deita Teu saudoso pai que muito te ama D. Pedro"
Documento/Processo, 1832/08/02 – 1832/08/02
Transcrição livre: " Porto 2 de agosto de 1832 Minha querida Maria. Muito gosto tive de receber as tuas cartas de 9 e 15 de julho: elas me causaram bastante satisfação e modificaram um pouco minhas saudades porque fiquei certo que tu estavas boa de saúde, que estudavas e que teus mestres estavam contentes. Eu te peço que continues como agora nos teus estudos, e isto será para mim o prémio de todos os meus trabalhos e perigos em que estou metido; por minha honra e pelo amor que te tenho. Hoje faz 8 anos a nossa Chiquinha como estará ela? Á que meu coração se sente estalar de saudades quando penso aqueles inocentes que tão longe estão de mim e dos cuidados de tua mãe! Ao céu dirijo contínuas preces por eles bem como por ti e espero que Deus Nosso Senhor não deixará de ouvir as orações de um pai aflito que não vive senão para seus filhos, e que mais cuida neles que em si. Adeus minha adorada filha, abraça a mana Amélia e recebe a bênção que te deita Teu saudoso pai que muito te ama D. Pedro P. S. Recados à tua Dama."
Documento/Processo, 1832/09/02 – 1832/09/02
Transcrição livre: "Porto 2 de setembro de 1832 Minha querida Maria. Tenho recebido 5 cartas tuas de 23 de julho, de 1º de agosto, de 4, de 8, e de 18, elas me encheram de prazer porque tu me dás provas que continuarás com grande aproveitamento teus estudos, e que gozas de perfeita saúde: eu também tenho essa felicidade, apesar de tantos trabalhos, e de tantas saudades que tenho da tua mamã, de ti, e da tua mana Amélia e da Duquezinha. Tu me pedes que te dê notícias detalhadas do que por cá se passa: por ora tudo está na mesma, todos animados ainda que cercados por um exército muito mais numeroso que o teu; mas que se não atreve a atacar as fortificações, que eu tenho delineado, em que mesmo tenho trabalhado com minhas mãos: exemplo de que poucos tem sido seguido, pois todos desejam ser felizes mas sem trabalhar. Continuo com gosto e coragem a sustentar os teus direitos, e a pugnar pela humanidade, e espero que Deus Nosso Senhor protegerá tão nobre empresa. Muito sinto que a questão tenha sido tão renhida e a luta tão porfiada, e na qual tanto sangue tenha corrido de parte a parte; mas não é nossa culpa, nós viemos trazer a Portugal a liberdade; aos Portugueses esta, e a paz; eles fanatizados pelos Padres e Frades (corja infame) não tem querido abraçá-las; tem-se nos oposto com as armas nas mãos, tem feito crueldade aos nossos… como será possível à vista disto deixar de correr sangue de parte a parte? O Governo Usurpador não cessa de mandar enforcar aqueles teus súbditos que te são fiéis, e aos seus princípios liberais; o teu Governo não cessa de fazer tudo quanto pode por chamar (por bem) os povos ao seu dever, fazendo-lhes ver o seu erro, e perdoando-lhes as suas faltas: à vista disto quem duvidará de que lado está a razão e a justiça? ninguém, o mesmo Lord Wellington o confessa: nada mais é preciso para provar que nós somos os defensores verdadeiros do Trono e do altar bem como da Liberdade. Todos os atos do Governo são públicos, e tem sido mui bem recebidos, mesmo pelos desgraçados que por fanatismo, e é de esperar que os povos vendo por um lado um governo que os alivia de impostos e de sofrerem o peso dos privilegiados, e por outro um governo que os quer reduzir a mais do que escravos, não tenham a menor hesitação em decidirem-se a favor do que melhor lhes convém: os mesmos privilegiados (no número dos quais entro eu como Chefe da casa de Bragança) não podem ter razão de queixarem-se pois o Governo garante-lhes tudo o que eles por extorsões tiraram dos Povos; a diferença é que só o Governo fica em contacto direto com o Povo e só ao Governo compete como da Carta se vê, prover benefícios, ofícios, curatos, Juízos de Fora, etc. que até aqui estavam nas mãos dos Privilegiados, o que lhes aumentaram em grande parte os seus rendimentos por meios indecentes e lhes dava uma certa independência que era prejudicial à sociedade pois constituía status in statu. Desejaria entreter-me mais tempo a escrever-te mas tenho muito que fazer e por isso esta carta vai conforme sair da primeira vez. Recebe minha adorada filha a bênção que te deita Teu saudoso pai que muito te ama D. Pedro P.S. Faze os meus cumprimentos à tua Dama e dá um abraço e um beijo na mamã Amélia da minha parte e na Duquezinha."
Documento/Processo, 1832/09/14 – 1832/09/14
Transcrição livre: "Porto 14 de setembro de 1832 Minha querida Maria. Muito sinto e todos os teus súbditos que tu estejas incomodada do teu joelho; eu espero que não seja nada de maior cuidado: eu já padeci dos joelhos inchavam-me e unicamente o que os curou perfeitamente foram os cáusticos repetidos todas as vezes que eles me inchavam e me doíam. A abundância de sinóvia que se extravasa é que causa a inchação e as dores vem em consequência do aumento da mesma sinóvia que não deixa mover o joelho e por isso mesmo faz que os tendões sofram que é o que causa as dores. Eu não creio que tu tenhas outra coisa, e enquanto te puserem bichas e não cáusticos tu poderás achar-te melhor por algum tempo, mas há de te repetir. Eu já encomendei para o Rio as duas ervas com que te curaste da outra vez, que é a Baleeira e Inhanga-pixirica e espero que quando tu chegares a Portugal pouco tempo depois possas tomar os banhos. Eu não descanso um só momento de cuidar em ti por todos os modos e parece-me que nem levemente tenho que arrepender-me pois tu te mostras muito boa filha e buscas de todos os modos agradar-me já estudando, já seguindo os conselhos e exemplos de tua mãe. Aceita minha adorada filha a bênção que te deita Teu saudoso pai D. Pedro"
Documento/Processo, 1832/09/24 – 1832/09/24
Transcrição livre: "Porto 24 de setembro de 1832 Minha querida Maria. Recebi a tua carta do 1º deste mês e muito folgo de saber que te achas perfeitamente restabelecida do incómodo que sofreste no joelho: tarde chegará a minha receita, ainda bem; mas se o incómodo tornar a voltar o meu voto é que te deitem um vesicatório. A estas horas não terás razão de te queixares de não receberes carta minha pois te tenho escrito sempre que posso, se mais vezes o não faço é porque o tempo é pouco para tratar de fortificar esta cidade que em oito dias não temerá ser atacada por 20:000 homens. Todos se acham animados do melhor espírito, o nosso grito de guerra é D. Maria e Carta: o inimigo está bastante desanimado; estão todos os dias a fugir para nós e para suas casas imensos soldados; ontem vieram dois oficiais de caçadores 8 e esperam-se muitos mais; tudo nos faz crer que ajudados da Providência o triunfo será certo. Muito sinto que isto não esteja ainda em estado de tu vires com a Mamã, e podes estar certa que assim que eu veja que não há risco iminente, não espaçarei um segundo a tua vinda, pois muito convém que estes teus súbditos te conheçam, e que tu os conheças. O Capitão Costa Engenheiro cá chegou: eu muito folgo de ver que os teus súbditos correm ao perigo quando se trata de defender o que eles tem de mais caro, Rainha, Pátria e Liberdade: ouço dizer que ele é bastante inteligente, e não deixará de ser aproveitado no serviço da nobre causa em que nos achamos empenhados. Aceita minha adorada filha a bênção que te deita Teu saudoso pai e amigo D. Pedro P.S. Muito te louvo a coragem que mostraste deixando-te arrancar dois dentes que impediam que os mais viessem a ficar direitos."
Documento/Processo, 1832/09/28 – 1832/09/28
Transcrição livre: "Porto 28 de setembro de 1832 Minha querida Maria. Recebi a tua carta de 14 e com ela a de tua Mamã na qual vinha a contradança que tu compuseste, eu a acho muito bonita e é mister que continues: agora mesmo acabei de copiá-la para a Januária contando-lhe na carta que lhe escrevi que tu estás muito adiantada nos eus estudos, e pedindo-lhe que estude e que me mande provas do seu aproveitamento. Muito estimo saber que estão bem de saúde eu também passo bem apesar das muitas saudades que tenho de ti e da tua mamã e mana: o motivo de tu não teres carta que te contasse do pequeno combate foi porque o paquete chegou e partiu durante ele, muito te louvo o cuidado que tens em mim. Peço-te que me continues a contar as gracinhas da tua mana Amélia: eu muito gostei do que ela fez ao teu retrato. Agradeço a tua Dama o beija-mão. Nata há por hora de novo estamos esperando ansiosos um ataque deveras, para sairmos deste estado de apatia: temos armas pólvora bala gente, já 150 cavalos e esquadra aumentada, e dinheiro portanto só nos falta que o inimigo queira atacar-nos. Todos os dias se passam do exército rebelde para o teu soldados às dúzias, e a tropa de linha rebelde está bastante abalada e portanto disposta a nosso favor, se não fossem os Voluntários Realistas ela já cá estaria toda ou pelo menos grande parte. Aceita minha querida filha a bênção que te deita Teu saudoso pai que muito te ama D. Pedro"
Documento/Processo, 1832/10/14 – 1832/10/14
Transcrição livre: "Porto 14 de outubro de 1832 Minha querida Maria. Recebi a tua de 18 de setembro na qual me acusas a minha que te escrevi a 2 do referido mês, que me causou grande prazer: tu me fazes lembrar o teu mestre Parreiras e empregas sólidos argumentos em seu abono convencido deles e da sua justiça ordenei ao Ministro da repartição que o indemnizasse dos seus direitos ofendidos. Estimei que tu empregasses argumentos para me fazeres conhecer a justiça que assistia ao teu Mestre, e com isto tu me fizeste conhecer igualmente duas cousas 1ª que tu estás persuadida que a razão e a justiça são quem devem proteger o teu mestre 2ª que tu sabes que eu não sou capaz de me dobrar a empenhos. Que grande prazer me causa ver que tu amas a justiça, detestas empenhos, e conheces que só o merecimento e as virtudes são que devem fazer com que os governos olhem e considerem os homens a despeito de patronatos e da vil quimera de sua nobreza quando esta é despida de virtudes e talentos! Muito te agradeço as notícias que me dás da Duquezinha. Tu estimarás vir para o Porto com a Mamã eu o creio, e muito o desejo; mas por ora acredita ainda não há chegado o tempo chovem balas de artilharia, Bombas, Granadas, e foguetes nesta heroica cidade e portanto esta posição está só boa, por hora, para continuar a adquirir glória, e excitar os governos livres, em favor da humanidade e da liberdade. Agora mesmo pelo paquete que acaba de chegar recebo uma outra carta tua e muito te louvo o sentimento que tu mostras que se esteja derramando tanto sangue: como me pedias que fizesse saber a Bernardo de Sá o teu sentimento pela perda do seu braço eu lhe enviei a tua mesma carta para que ele a visse, ele te agradece e já está bem completamente. Bem seria que tu fizesses, se a Mamã achar que ainda é tempo, constar ao Conde da Bemposta e o Monsieur Lafayette , o sentimento que tu tens de que tanto o sobrinho daquele como o neto deste estejam feridos e por isso privados por alguns dias de poderem continuar a cobrirem-se de glória como até aqui defendendo a tua causa e a dos Povos. Eles se pagarão muito desta atenção da tua parte, e cada um a fará constar ao seu parente o que muito prazer lhes causará. Recebi cartas de teu mano e manas estão bem graças a Deus. Recebe minha querida Filha a bênção que te deita Teu saudoso pai e amigo D. Pedro P.S. Agradece a tua Dama da minha parte"
Documento/Processo, 1832/11/09 – 1832/11/09
Transcrição livre: "Porto 9 de novembro de 1832 Minha querida Maria. A Senhora do General Azevedo entregou-me uma carta tua com o N.º 22 na qual tu te queixas de há muito tempo não teres notícias minhas muito sinto que assim tenha acontecido pois certamente tu e a Mamã se terão afligido muito. Estimo que a Mamã te desse o meu retrato em prémio de boas lições e que tu lhe dês tanto apreço; isto me prova indubitavelmente o amor que tu me tens e que eu muito te agradeço e retribuo comprovando-o em factos. Nós estamos todos animados apesar do sítio rigoroso que o inimigo nos está fazendo mas querendo Deus tudo irá bem e em pouco tempo espero alcançar quando não completamente ao menos grande vitória. Aceita minha querida filha a bênção que de todo o coração te deita Teu saudoso pai D. Pedro P.S. Meus cumprimentos à tua Dama"
Documento/Processo, 1832/11/19 – 1832/11/19
Transcrição livre: "Porto 19 de novembro de 1832 Minha querida Maria. Recebi o teu N.º 21 que é a primeira carta que tu numeras: nela tu me fazes conhecer o sentimento que tanto tens que tanto sangue se esteja derramando, muito te louvo o sentimento de humanidade que professas. Tu me pedes que não exponha muito a minha vida e me lembra da falta que te faria. À minha querida filha eu te agradeço o interesse que tomas por mim e eu te asseguro que tomarei aquele cuidado que for compatível com a minha honra. Muito te agradeço os parabéns dos anos e o desejo que tens de me veres e de agradeceres-me o que tenho feito por ti: eu tenho feito o que me cumpria fazer como pai e como amigo da Liberdade tendo em vista a tua felicidade, o bem da humanidade, e alcançar glória. Muito estimaria poder mandar-te buscar, mas por ora ainda as cousas não estão como é preciso que estejam para que tu e tua mamã e mana possam aqui estar sem perigo. Recebe minha amada filha a bênção que de todo o coração te deita Teu saudoso pai D. Pedro P.S. Meus cumprimentos à tua Dama."
Documento/Processo, 1832/11/27 – 1832/11/27
Transcrição livre: "Porto 27 de novembro de 1832 Minha querida Maria. Recebi a tua do 1ª deste que me causou muito prazer, e peço-te que não penses que te não tenho escrito tantas vezes como desejava se não porque o tempo é pouco para o que tenho que fazer. Muito sinto de te não poder mandar buscar mas isto ainda não está seguro ainda ontem os desapiedados miguelistas deitaram para a Cidade desde as 6 horas da manhã até às duas da tarde 140 bombas fora os foguetes e bala rasa que isso não tem conta. Muito estimo saber que a Mamã já tenha mandado escrever aos dois parentes de de Lasteyrie e Saint-Léger antes de lá chegar a minha carta: eles ainda o não sabiam ontem e quando lhes dei parte ficaram muito agradecidos pela atenção que se tenha tido com eles e com seus parentes. Se não tivesse muito que fazer continuaria esta para nela te contar o que se passa; mas não vale a pena de roubar tempo ao trabalho para contar cousas indiferentes. Eu estou bem mas moído com trabalho: eu não desanimo e confio que ajudado das Potências amigas não é possível que se perca tão nobre e justa causa e que mesmo ainda que elas me não ajudem não será fácil que retrograde. Recebe minha amada filha a bênção que te deita Teu saudoso pai D. Pedro P. S. Um abraço e um beijo na tua mana Amélia pelo dia do seu aniversário: meus cumprimentos a tua Dama."
Documento/Processo, 1832/12/08 – 1832/12/8
Transcrição livre: "Porto 8 de dezembro de 1832 Minha querida filha. Recebi a tua carta de 6 de novembro que, e causou grade prazer pela certeza que me dás de que estavas de saúde bem como a tua Mamã: sinto que Amélia tenha sofrido algum incómodo procedido dos dentes; mas estimo que não tenha tido convulsões o que eu muito receava. Eu gozo de saúde apesar de todos os pesares, e te asseguro que sou incansável em procurar os interesses dos teus súbditos. Mandei imediatamente entregar a carta do Conde da Bemposta a seu sobrinho que está muito melhor. Não te dou notícias disto porque tudo está na mesma, continua o bombardeamento sobre esta desgraçada Cidade; mas seus habitantes sofrem com resignação todos os tormentos que os bárbaros sectários da Usurpação não cessam de dia e de noute de lhes causar, esperançados de um dia poderem gozar de um governo livre, qual o da Carta. Abraça tua Mana Amélia e a Duquezinha e recebe a bênção que de todo o coração te deita Teu saudoso pai D. Pedro P.S. Meus cumprimentos à tua Dama"
Documento/Processo, 1833/01/09 – 1833/01/09
Transcrição livre: "Porto 9 de janeiro de 1833 Minha querida Maria. Agora que tenho um instante de meu pego na pena para te agradecer as tuas duas cartas de 14 e 20 de dezembro e te direi que as bombas tem feito bastante estrago na Cidade bem como as balas havendo morto alguma gente que por habituada, já delas não fazia caso: tudo o mais está no mesmo estado e veremos se pela força das armas poderemos acabar com a contenda. Tu achaste o meu retrato representando-me mais magro e me dizes que te fez muita impressão isto nada mais é que a consequência de tantos trabalhos que tenho para te procurar um futuro próspero para ti e para aquela nação a que pertences sem mais interesse que a glória que possa adquirir salvando a humanidade oprimida e tendo o gosto de ver mais uma nação livre do despotismo. Dá um abraço com a mesma cautela que destes o outro na tua Mana Amélia e na Duquezinha: espero que esta te encontre de saúde eu ao menos tenho essa fortuna. Adeus minha querida filha recebe a bênção que te deita de todo o coração Teu saudoso pai D. Pedro"
Documento/Processo, 1833/01/12 – 1833/01/12
Transcrição livre: "Porto 12 de janeiro de 1833 Minha querida Maria. Recebi a tua mui bem escrita carta de 6 de dezembro na qual tu te queixas que havia muito tempo que não recebias cartas minhas: eu bem desejava escrever-te todas as vezes que escrevesse a tua Mamã; mas tenho tanto que fazer todos os dias que quase sempre me falta o tempo e por isso tenho pedido a tua Mamã que te abrace da minha parte e que te dê muitas saudades minhas: o que ela não deixará de ter feito não só porque eu lho pedia; mas também porque ela te ama muito e deseja fazer tudo que seja minha vontade. Tu não esperavas passar o ano de 1832 em Paris, nem eu supunha que teria o desgosto de estar tanto tempo sem te ver: tu podes estar certa que assim que isto estiver seguro não tardarei um só momento a mandar-te buscar pois tenho muitas saudades de ti, e de tua Mamã que pelo amor que te tem não veio comigo, e da tua mana Amélia na qual darás muitos beijos e abraços por mim. Muito te agradeço as notícias que me dás do teu mano Pedro e de tuas manas, de quem tenho muitas saudades, e muito sinto saber que o meu amigo Conde de São José foi atacado de uma apoplexia e que a ela sucumbiu. Nhonho mandou-me um desenho muito bem feito, obra só dele e que ele fez de propósito para me mandar no dia dos mês anos com uma carta mui bem escrita dando-me os parabéns. Tu não fazes ideia do prazer que isto me causou, e como sei que tu és muito sua amiga por isso te conto isto que não pode deixar de ser apreciado por ti. Muito estimo que Amélie já ande só e que esteja muito galantina: peço-te que não a atormentes como fazias a Nhonho e a Chiquinha à força de lhes quereres bem. Estimarei que ao receberes esta já estejas hoje livre do defluxo: eu passo bem apesar de tantos incómodos que sofro. Não tenho tempo de te dar notícias, a Mamã lhas dará pois eu lhe escrevo tudo que se passa: só te direi que todos se acham muito animados e prontos a fazerem todos os sacrifícios por uma tão nobre e justa causa, o que homens de honra são sempre capazes de fazer. Espero que ajudado dos conselhos do Marechal Major General Solignac eu possa em pouco tempo fazer triunfar a Legitimidade e a Liberdade, da Usurpação e Tirania. Quando contemplo as briosas tropas que tenho debaixo do meu comando não me posso persuadir que a vitória deixe de ser nossa. Agradece da minha parte à tua Dama e à Baronesa os cumprimentos que me fazem. Recebe minha adorada filha, a bênção que de todo o coração te deita Teu saudoso pai D. Pedro"
Documento/Processo, 1833/02/24 – 1833/02/24
Transcrição livre: "Porto 24 de fevereiro de 1833 Minha querida filha. Recebi o teu N.º 1 de 19 de janeiro folgo muito saber que tu gozas atualmente de boa saúde e que estás muito crescida e adiantada nos teus estudos muito estimarei que sempre tenhas que me dar parte de cousas agradáveis principalmente pelo que respeita a tua saúde e estudos: eu gozo de saúde no meio da peste, fome e guerra e sempre esperançado que levarei ao fim a minha empresa; o cólera já esteve mais forte mas o que concorre para quele ele não tenha diminuído tanto quanto se esperava é a grande miséria e privações que chegam a todos contudo a mortandade nos hospitais é de 1/7 dos que entram, ataca sobretudo as mulheres de sorte que adoecem 10 mulheres quando dos homens adoece um: muito sinto ter de te contar estas coisas; mas como tu te interessas pelos teus súbditos justo que te faça saber tudo. Pelo que toca ao mais que tu sabes tudo se conserva no mesmo estado, mais bombas e balas em um dia menos no outro, etc. etc. disto já ninguém faz caso o pior é a fome que começa a chegar-nos por casa porque o mar não tem permitido que desembarquem víveres: ontem digo antes de ontem esteve melhor quisemos desembarcar algum bacalhau mas não foi possível porque também tivemos de desembarcar 200 soldados e os barcos são poucos. Muito estimarei ver já tudo isto acabado e bem para ter o gosto de te ver e a tua Mamã e Mana. A carta foi entregue ao Costa e esta já vai numerada e com um grande N.º 1. Faze os meus cumprimentos a tua Dama, à Baronesa e abraça a Mana Amélia e Isabel. Recebe minha querida filha a bênção que te deita Teu saudoso pai D. Pedro"
Documento/Processo, 1833/03/18 – 1833/03/18
Transcrição livre: "N.º 2 Porto 18 de março de 1833 Minha querida Maria. Recebi as tuas cartas N.º 1 e 2: muito estimo saber que as minhas cartas de 9 e 12 de janeiro te causaram grande prazer: muito te agradeço a novidade de que Francisco Maria Teles é o Aio de Nhonho . Sinto muito que tivesses estado incomodada com uma febre e estimo saber que te achas perfeitamente restabelecida. Estimo saber que entreténs uma correspondência em inglês com a Princesa Clementina certamente tu ganharás muito com isso. A resposta do Rei a teu respeito era de esperar e direi contigo “Tomara eu saber de quem é a culpa”. Estimo que te divertisses no Louvre e espero que te lembrasses de mim nessa mesma ocasião lamentando que eu também não pudesse ir. Agradeço-te as boas novas que me dás da saúde da tua Mamã e da tua e de me dizeres que a mana já diz petit biscuit e bon jour e maman. Agradeço a tua Dama os seus cumprimento. Sinto muito a morte da Baronesa de Saúde. Isto por cá vai indo a Mamã que te conte que eu não tenho tempo, e tenho muito que escrever. Recebe minha querida filha a bênção que de todo o coração te deita Teu saudoso pai D. Pedro"
Documento/Processo, 1833/04/04 – 1833/04/4
Transcrição livre: "Porto 4 de abril de 1833 Minha querida filha. Posto que o festejo que devia ter lugar hoje, fosse transferido para o dia 8 por causa da Quinta-feira Santa, contudo o amor que te consagro não consente que eu deixe de te escrever hoje mesmo: ainda que certo de que esta carta não poderá partir antes de Segunda-feira, se o tempo o permitir. Ao mais decidido valor e a maior firmeza e constância de teus súbditos fiéis se deve o podermos festejar teus anos, nesta Fidelíssima Cidade esperançados ainda todos na justiça e nobreza da Causa que defendemos e não desesperando que muitos destes dias festejaremos quando Portugal livre inteiramente do jugo tirânico que sufoca os sentimentos nobres que os Portugueses nutrem em seus peitos gozar daquelas felicidades de que é digno sendo a principal a de ver-se governar em pessoa por aquela que é sua legítima Rainha. Sendo estes teus anos os primeiros que os Portugueses fiéis festejam na sua Pátria depois que o fiel Exército Libertador, que eu me prezo de comandar em Chefe, desembarcou neste Reino não me parece conveniente deixar de em teu Nome, fazer algumas graças, em justa retribuição de serviços, aqueles de teus súbditos que por ti e pela Pátria hão sacrificado suas pessoas e bens; igualmente achei justo agraciar aqueles estrangeiros que maior serviços diretos fizeram à justa causa Portuguesa; e desejando mostrar a esta Fidelíssima Cidade a consideração em que tenho os serviços por ela tão espontaneamente prestados a ti e á humanidade também em teu Nome lhe fiz uma graça que despertará no futuro a lembrança de seus heroicos feitos. Das crónicas que te remeterei tu verás qual é a graça concedida a esta Cidade e quais são aqueles de teus súbditos que eu julguei dever agraciar: na escolha destes não entram afeições nem ódios; a justiça e a imparcialidade regerão minha deliberação; e naquela a minha gratidão para com os habitantes desta Cidade: que na História imparcial receberão os elogios de que são dignos. Dedicando esta carta, unicamente a felicitar-te pelos teus anos; não narrarei outras coisas além das que ficam ditas: e aproveitando mais esta ocasião não posso privar-me de dizer-te, o que mui bem sabes, que muito te amo e que por ti pela humanidade e pela minha honra continuarei a sustentar a nobre e justa causa que pessoalmente defendo: a despeito de todos os perigos e imensas privações e sofrimentos de todos os géneros enquanto fisicamente, for possível ao Exército fiel manter-se. Recebe minha adorada Maria, a bênção que de todo o coração te deita Teu saudoso pai D. Pedro"