Produtor, 1929 – 1950
É numa zona relativamente isolada, nas proximidades da praia, que se erguem a "Clínica Heliantia" e o "Sanatório Marítimo do Norte", no meio do Pinhal de Francelos.
Entre finais do século XIX e princípios do século XX, a Europa assistiu a um movimento assaz inovador de construção de "sanatórios", preferencialmente edificados em zonas onde se pudesse vislumbrar uma Natureza ainda pouco transformada pelo desenvolvimento económico, designadamente junto ao mar, com base no conceito formulado pelo médico suíço, Arnold Rikli (1823-1906), segundo o qual "A Água é benéfica; o ar é ainda mais, mas a luz é melhor". Contudo, o início da 1.ª Guerra Mundial (1914-1918) provocaria um acentuado decréscimo na sua proliferação. Foi, no entanto, em pleno conflito bélico, e numa altura em que Portugal se envolvia diretamente no seu desenrolar, em 1916, que se procedeu à construção do Sanatório Marítimo, concebido pelo arquiteto Francisco de Oliveira Ferreira (1884 - 1957) a quem, em 1909, se atribuíra o primeiro lugar no concurso para o monumento a erguer aos Heróis da Guerra Peninsular, na cidade de Lisboa.
E terá sido, precisamente, esta sua primeira incursão pelos meandros de uma arquitetura especializada na área da saúde pública que o motivou a examinar os principais modelos europeus da época nesta área, a fim de conceber um novo projeto para as proximidades do sanatório. Foi com essa finalidade que, juntamente com o Dr. Ferreira Alves, decidiu deslocar-se à Suíça, onde visitou as clínicas do Dr. Rollier (1874 - 1958), em Leysin, famosas pelas técnicas inovadoras que implementava ao nível da Helioterapia. É certo que a ação benéfica do Sol era conhecida há algum tempo, como comprovavam os trabalhos de cientistas do século XVIII, como Lazzaro Spallanzani (1729-1799), L. L. Loreti, Faure e Le Peyre e Comte, assim como de Christoph Wilhem Hufeland (1762-1836), do médico francês Bertrand, e de muitos outros que, ao longo de toda a centúria de oitocentos dissertaram sobre o assunto, assaz pertinente num século que vira aumentar o número de tuberculosos. Mas foi, sobretudo, no dealbar do século XX que a Europa assistiu a uma multiplicação de estabelecimentos de saúde consagrados à Helioterapia, nomeadamente para tratamento da tuberculose pulmonar, como a coxalgia, "Mal de Pott", peritonite tuberculosa, etc. E foi, assim, que, a par dos inaugurados em Saint Moritz (França) e em Veldes (Áustria), o sanatório helioterápico de Rollier obteria enorme sucesso, funcionado como verdadeiro protótipo de muitos outros construídos um pouco por todo o Continente europeu.
Reunidos todos os elementos indispensáveis à delineação de tão ambicionado projeto, F. de O. Ferreira iniciou a sua conceção em 1926, com base nos mais modernos conceitos da Helioterapia que aí visionara, e que deveria ganhar corpo em breve na praia de Valadares. Em 1930, inaugurava-se a "Clínica Heliantia", edificada segundo os parâmetros mais exigentes desta nova tipologia arquitetónica, onde o autor utilizou de modo arrojado e inovador alguns pormenores, tornando-se numa verdadeira fonte inspiradora para outros projetos nacionais.
De planta retangular de quatro pisos com pé direito duplo e cobertura plana revestida com lajes de betão, toda a estrutura é ritmada pelas varandas abertas e separadas por pilares redondos e estriados; pela própria diversidade volumétrica, assim como através de outros elementos, como o escalonamento dos terraços e a presença do próprio solarium. Concebida em função da luz solar, as fachadas Nascente e Poente apresentam balcões sobrepostos verticalmente, enquanto os amplos degraus da fachada Sul recebem a luz solar sem qualquer interferência. No interior, ainda é possível observar a escadaria principal e as grades do antigo elevador, onde o principal elemento decorativo é assumido pelo girassol, presente nos demais recantos da clínica, como nos mosaicos dos pavimentos e nalguns candeeiros de teto.
[A. Martins. In http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70757, consultado a 21-06-2016]
Cronologia
1916 - Construção do Sanatório Marítimo do N. nas proximidades da Heliântia, do mesmo autor; Deslocação à Suíça do Arq.º com o Dr. Ferreira Alves para visita das clínicas do Dr. Rollier (1874-1958), em Leysin;
1926 - Primeiros estudos para o edifício Heliantia do Arq.º Francisco de Oliveira Ferreira;
1930 - Inauguração da Heliântia;
1974/1975 - O Edifício é adquirido à Família Pinto de Azevedo pelo BPA;
1991 - Obras de adaptação para a instalação do IESF da autoria dos Arquitetos Manuel Magalhães e F. Abrunhosa de Brito;
2002, 4 janeiro - Despacho de abertura do processo relativo à eventual classificação;
2012, 31 outubro - publicação do projeto de decisão relativo à classificação como Monumento de Interesse Público e fixação da respetiva Zona Especial de Proteção em Anúncio n.º 13645/2012, DR, 2.ª série, n.º 211.
[http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5349, consultado a 21-06-2016]